Acabamos de nos conhecer, mas podemos nos apaixonar e imaginar a vida com aquela pessoa e, nesta imaginação, projetar sonhos, acreditando que tal pessoa pode ser perfeita, melhor do que todas as outras que conhecemos. Que estamos diante de uma reunião de coisas incríveis, que só esta pessoa possui e ninguém mais. E as fantasias crescem a partir da ideia que temos do amor romântico.
Conscientemente podemos entender que isso não existe, que, por mais que cada pessoa seja única, com características próprias, ninguém possui todas as qualidades, todos nós possuímos defeitos. Quando se está apaixonado, porém, isso é mais difícil de enxergar...
As pessoas ainda não convivem com tanta proximidade, existe um enorme distanciamento e as idealizações crescem. Isso ocorre com muitas pessoas que podem conhecer um outro alguém e o idealizar. O que não se leva em consideração quando os hormônios estão elevados pela atração e pela fascinação do interesse é que todo relacionamento que evolui, evolui consigo a aproximação física. Há, assim, a oportunidade de conhecer melhor aquela pessoa na qual projetamos ideais, intenções, cenas lindas e perfeitas.
Na prática, porém, vemos que não é bem assim: que quando ela não teve um dia bom, pode falar de uma forma áspera; que possui algumas manias estranhas, manias estas com que temos muita dificuldade em lidar e que podem tornar inviável o relacionamento. Manias que não se encaixam naquela visão ultrapassada e romântica.
De perto, tudo é diferente e se amplia, muitas pessoas se surpreendem e entendem que se iludiram com projeções e pensamentos de uma pessoa que não existia. Só existiu, de fato, na imaginação, na criação mental que fizeram dela.
Como hoje as relações estão rápidas, ninguém parece querer esperar nada, conhecer melhor o outro, conviver um pouco. Vivemos em um mundo tão descartável, e as relações não são diferentes: tornam-se igualmente descartáveis.
Penso que muitas intempéries e decepções poderiam ser evitadas se conseguíssemos ter um pouco de tempo para conhecermos melhor alguém, termos contato. E que o outro também possa ter oportunidade de nos conhecer melhor. Com isso, poderíamos saber se aquela paixão é verdadeira, se é legítima ou se é apenas fruto de nossa imaginação ou de nossas carências.
Se alguém que pensamos ser um possível amor, não for, talvez possa tornar-se um amigo(a). Não necessitamos nos precipitar com tudo, ter pressa. Fundamental é termos respeito ao campo emocional.
Às vezes, diminuímos a importância dos sentimentos, mas tudo o que ocorre em nosso emocional se desdobra para o físico, de alguma maneira se transforma em doenças.
Por causa das decepções, as pessoas criam descrenças nos sentimentos, como no amor, o que pode causar muitos equívocos em futuras relações. No entanto, com um pouco de calma e um pouco mais de atenção, podemos rever tudo isso. Refazer sentimentos que são tão importantes para vivermos de uma forma mais saudável.
Lógico que sabemos que ninguém é perfeito, mas criamos esta ideia romantizada. Todo ser humano possui coisas incríveis e também defeitos em sua personalidade e comportamento.
Não existe relação perfeita, existem construções melhores, existem construções saudáveis, onde cada um dos envolvidos está disposto a ser melhor, a se aperfeiçoar enquanto indivíduo, a se amar melhor, a se conhecer. Assim, existe a possibilidade de ambos estarem mais inteiros e conseguirem vivenciar melhor a construção do amor. Com defeitos e qualidades, nas dificuldades da vida, no passar do tempo, sem formas preconcebidas ou idealizadas, sendo pessoas com seus erros e seus acertos, sendo seres humanos.
Minha avó falava: se você quer conhecer uma pessoa de verdade, coma durante muitos anos muito feijão e arroz com ela…mas atenção, talvez mesmo assim ainda não a conheça muito bem!